Se pudesse, rodear-me-ia de pessoas simpáticas e acolhedoras para mim, pessoas com o proverbial coração. Com essas pessoas, quero construir de bom grado o meu país e expulsar dele todos os intrusos que não se curvem à minha vontade. Só quero viver numa sociedade ideal, onde nos damos bem uns com os outros e onde reina a boa vontade e o amor. Mas, infelizmente, não tenho esse poder. Só posso convidar para minha casa aqueles que me causam boa impressão; só posso sair para receber aqueles de quem gosto. Mas no que diz respeito ao Estado – a comunidade humana alargada – não tenho escolha.
Aqui tenho de viver com pessoas que não são do meu agrado. E às vezes posso pelo menos ignorar as pessoas de quem não gosto, mas às vezes não as posso evitar e tenho de aceitar a realidade desagradável. Por isso, sinto-me bem com pessoas que vivem dentro das suas possibilidades e são felizes com isso. E não posso deixar de cerrar os dentes quando me apercebo da quantidade de parasitas que existem na minha sociedade e que só se podem queixar de como o resto da sociedade é mau para eles e de como não lhes é permitido viver normalmente. Há pessoas que partilham opiniões sobre muitos temas, por vezes parcialmente, por vezes diametralmente opostas.
E quantas vezes me entristeci ao ver como, na minha opinião, os apaixonados ultrapassam os seus irmãos de pensamento racional! Há pessoas que deixam o seu julgamento para mim porque sabem que entendem algo melhor do que eu. Mas há outras que me seguem por obrigação, porque sabem que as suas opiniões estão erradas. Algumas pessoas querem estar comigo, outras não suportam e evitam-me. É assim que as coisas são. E, aparentemente, tem de ser assim. As pessoas têm de se adaptar ao seu ambiente e talvez tentar mudá-lo para melhor com as suas próprias forças fracas. Ou têm de mudar a sociedade. É o que tenciono fazer quando me reformar. Espero que a sociedade do outro país que escolher seja melhor.