Quando registei as duas senhoras idosas, já era demasiado tarde para saber qual era o tema da sua discussão animada. Cheguei precisamente quando a discussão já estava em pleno andamento. Era mais um monólogo do que uma discussão, com uma senhora, obviamente vestida com um vestido elegante e caro, a acenar à outra senhora e, ocasionalmente, a trocar algumas palavras.
A senhora elegante estava apenas a queixar-se, em voz alta e emocionada, de alguma travessura. E isso deve ter sido crucial. Todos à sua volta, na rua, devem tê-la ouvido falar alto e gesticular. Desafiam-na a fazer isso. Ela queria que a aceitassem e, afinal, era suposto que a aceitassem. Mas e eles? Disseram-lhe que poderiam dar conta do recado dentro de uma semana ou assim, porque não tinham capacidade para isso de momento. Se isso não fosse suficiente, ela teria de ir para outra empresa. Talvez não estejam tão ocupados”.
Eu disse-lhe isso. Foi assim que ela foi supostamente despedida. E agora ela tem de esperar essa semana porque não quer contactar outra empresa. Ela escolheu esta empresa e tenciona ficar com ela. Exceto no que diz respeito ao tratamento dos clientes acima mencionado.
A mulher está zangada há muito tempo. E, se pudesse, teria ousado apressar a empresa, agora sobrecarregada, e oferecer-se para a acolher em poucos dias, talvez mesmo num tribunal internacional. Eles não o teriam feito. \’Minha senhora, este tipo de coisas não acontecia no tempo do comunismo\’, disse-me ela muitas vezes.”
\’Isto não teria acontecido no regime comunista\’, conclui a senhora a sua ladainha. Este é o serviço mais baixo aqui”. Despede-se dos seus ouvintes e entra no seu Mercedes. Poderia ter denunciado a situação durante muito mais tempo, mas preferiu não o fazer. Às 20 horas de um domingo à noite, ainda tinha de ir às compras. Fiambre, salada, vinagre, caviar ou uma sandes pronta. Qualquer que fosse o programa de televisão que escolhesse, haveria algo para comprar.
E numa coisa ela tinha razão. Nada disto teria acontecido com os comunistas.
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